Evento na noite desta quarta-feira foi encerrado por um show do cantor Diogo Nogueira
Por João Vitor Costa
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Olha a emoção aí, gente! A noite desta quarta-feira coroou os artistas do carnaval, em 16 categorias, na 53ª edição do Estandarte de Ouro, considerado o “Oscar” do sambista. Ao longo da noite, o sentimento que mais se manifestou na festa foi o de emoção. Um dos exemplos veio de Mestre Lolo, da Imperatriz, que se definiu como alguém de falar pouco, e que foi às lágrimas ao receber o prêmio de melhor bateria, inédito na história leopoldinense. E o clima não podia ser outro, afinal, o primeiro homenageado do evento, que foi realizado no Vivo Rio, foi Neguinho da Beija-Flor, vencedor na categoria personalidade do ano, e que está se aposentando dos microfones da escola de Nilópolis. Para saudar o mestre, os intérpretes Ito Melodia e Pitty de Menezes relembraram sambas icônicos da Beija-Flor, além de “O campeão”, música de autoria de Neguinho.
— Deixo o microfone, mas o coração, a emoção, o gosto pelo carnaval, não — afirmou Neguinho, que não escondeu o sorriso em nenhum minuto.
Depois de afirmar que já tinha chorado todas as lágrimas no carnaval, Neguinho, chamado de “rei” ao ser anunciado, ainda discursou se valendo de um “São tantas emoções”, frase de outro rei, Roberto Carlos, homenageado pela Beija-Flor em 2011, para agradecer ao prêmio que recebeu das mãos de André Miranda, editor-executivo do GLOBO e do Extra.
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Neguinho, que beijou a placa que recebeu, chegou ao sexto Estandarte de Ouro de sua carreira. Os outros cinco foram como puxador, categoria que agora tem mais um artista empatado na liderança. Além de Neguinho, seu irmão, Nêgo, e Jamelão, histórico intérprete da Mangueira, agora Ito Melodia, da Unidos da Tijuca, é mais um que chega ao quinto Estandarte de Ouro de melhor puxador. Filho de Aroldo Melodia, Ito lembra do pai ao se dizer orgulhoso pela conquista pessoal.
— Os jurados do Estandarte de Ouro não têm ideia da emoção que estão me fazendo sentir. Vou dormir com o prêmio, viver com ele, porque minha vida é o samba — vibrou Ito, agradecendo a Deus e a seus orixás pela conquista.
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A festa, que teve roteiro e apresentação do jornalista Leonardo Bruno, um dos jurados da premiação, teve ainda muito mais emoção. Ao longo da noite, artistas que se foram recentemente, como as carnavalescas Márcia Lage e Rosa Magalhães, o mestre-sala Chiquinho e o coreógrafo de comissão de frente Fábio de Mello, foram reverenciados. O Estandarte de Ouro 2025 conta com patrocínio de Riotur/Prefeitura do Rio, promoção exclusiva da Rádio Globo e realização dos jornais O GLOBO e Extra.
Sósia de Laíla compositor e robô fazendo coração
Além da elite do carnaval, o Estandarte de Ouro saudou também as premiadas da Série Ouro, que teve a Porto da Pedra como melhor escola na opinião do júri do Estandarte. O desfile, assinado pelo carnavalesco experiente Mauro Quintaes, contou “A história que na borracha do tempo não apagou”, sobre a cobiça na Amazônia, com conjunto visual considerado impactante na Avenida. No palco, Mauro lembrou que completou 40 anos de carnaval em 2025. Já a Tradição conquistou o prêmio na categoria de melhor samba-enredo, com canção composta por Fred Camacho, Diego Nicolau e Pretinho da Serrinha, que embalou o desfile que tinha “Reza” como enredo.
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No Grupo Especial, por sua vez, foi a Beija-Flor que conquistou o prêmio de melhor samba-enredo, com canção que levantou a Sapucaí no desfile campeão sobre o diretor de carnaval Laíla, que morreu em 2021. Entre os compositores da parceria está Serginho Aguiar, que ficou conhecido como o sósia do homenageado, caracterização que depende de uma produção que envolve uma hora e meia de maquiagem.
Segundo ele, além de a escola vencer o carnaval com um samba seu e de conquistar seu segundo Estandarte de Ouro como compositor (em 2013, venceu pelo Império da Tijuca), um marco deste carnaval foi quando a Avenida Mirandela, em Nilópolis, “veio abaixo” quando apareceu caracterizado num desfile na rua no último sábado.
Para além da emoção, também houve espaço para o clima mais descontraído, como quando Leonardo Bruno brincou com os assuntos mais falados deste carnaval: nem mesmo a jurada que esqueceu de dar notas às escolas foi esquecida. Na hora que a Mocidade Independente de Padre Miguel, vencedora na categoria Comissão de Frente, comandada pelo coreógrafo Marcelo Misailidis, apresentou-se no palco, o público foi ao delírio. Com um enredo que lembrava desfiles da escola nos anos 1990, a apresentação futurista teve robôs — um deles, um cachorro, chegou a fazer corações para o público — e um boneco enorme articulado, que voltaram ao palco nesta noite. A apresentação valorizando os bailarinos agradou os jurados, especialmente por abdicar dos grandes tripés.
— Quando você fala em tecnologia, percebe que não precisa de grandes volumes para dar o seu recado. Hoje, a capacidade de armazenamento e tecnologia num celular é muito maior que a que levou o homem à Lua — afirmou Misailidis, que disse ter tido liberdade na criação. — Para a gente se comunicar, precisa de coisas mais enxutas.
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Aplausos de pé para a inovação do ano
Enquanto as baianas da Tijuca — que trouxeram um grande apelo religioso, com a representação dos cinco ovos de Oxum em suas cabeças — foram as melhores em sua categoria, o prêmio à melhor ala de passistas deste ano ficou com uma coirmã de seu bairro de origem, o Salgueiro, pela sinergia com a bateria. Já a melhor ala do carnaval, escolhida pelo júri do Estandarte, foi a da gaiola das loucas, LGBTQIA+, da Grande Rio, que encantou com a exuberância visual e o misticismo dos povos ciganos de sua fantasia, nomeada “Magia do Oriente”. A Portela, por sua vez, recebeu o prêmio de destaque do público, com o show de 200 drones que formou um sol no céu da Sapucaí já na madrugada da Quarta-Feira de Cinzas, para homenagear Milton Nascimento.
Já a Paraíso do Tuiuti, que apresentou na Avenida um desfile sobre a primeira travesti do Brasil, Chica Manicongo, foi vencedora na categoria inovação, pela escolha do enredo com temática trans, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.
— Quando a gente vê vídeos antigos (de desfiles), a gente vê as travestis nos destaques, no chão… a gente vê elas brilhando. E, de repente, você pega uns vídeos de agora, de uns 5 ou 10 anos, e não se vê mais. Falei: “cadê? Por que elas perderam esse espaço?” — explica Jack, que entende ter aberto portas com a apresentação.
No discurso do Tuiuti, um dos mais aplaudidos da noite, com o público de pé, Bruna Benevides, presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), pontuou que enquanto a sociedade tenta “criminalizar a existência das pessoas trans”, a agremiação construiu um novo imaginário, reconhecido com a premiação do Estandarte de Ouro.
— Isso faz parte de um projeto que foi construído durante um ano inteiro. Que colocou as pessoas trans na centralidade do maior palco do mundo, não apenas como convidadas, para servirem de enfeite: mas para efetivamente construírem, darem pitacos, se aproximarem da escola e ir para além da representatividade. Queremos aquilo como uma memória para as futuras gerações — observa Bruna.
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A edição deste ano também tem uma particularidade: é uma das poucas vezes em que o mestre-sala e a porta-bandeira, que concorrem separadamente, vencedores são de uma mesma escola. Das 53 edições do Estandarte de Ouro, isso só ocorreu em 13 delas, como desta vez, com Julinho Nascimento e Rute Alves, ambos da Viradouro. A elegância e o cuidado com o pavilhão foram destaques dos jurados. Julinho, por exemplo, fala em “mistério de Deus” ao conseguir se recuperar de uma luxação no pé, lesão ocorrida às vésperas do carnaval, em meio à rotina de ensaios. Já Rute descreve que sentiu um “nervoso bom” ao ser premiada, já que entende que, além de garantir 40 pontos no quesito julgado na apuração, vencer “o Estandarte é primordial”.
—É realmente o nosso Oscar, como a fala do Léo (Leonardo Bruno), que falou que quando o casal se impõe, de maneira artística, se impõe desejando encantar. Porque a gente faz arte e tudo que a gente pode fazer com a nossa arte é encantar o outro — comemora Rute.
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Homenagens a Rosa Magalhães e Renato Lage
Por fim, foi a vez de a Imperatriz, campeã em três categorias, subir ao palco. Além do estandarte inédito em bateria, comandada pelo Mestre Lolo — que chorou no palco — com seus atabaques, a agremiação de Ramos venceu na categoria enredo (“Ómi Tútu ao Olúfon: Água fresca para o senhor de Ifón”), desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira, sobre a saga de Oxalá na visita ao Reino de Oyó, para visitar Xangô, assim como na de melhor escola, com o entendimento de ter feito a apresentação mais completa do ano.
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Depois de um pré-carnaval em que as temáticas pretas chegaram a virar polêmica, Leandro — que homenageou aqueles que considera “pai” e “mãe” na profissão, Renato Lage, atualmente na Mocidade, e Rosa Magalhães, multicampeã que morreu no ano passado — comemora a avaliação do júri do Estandarte de Ouro de que a apresentação da Imperatriz foi de fácil compreensão. Na sua avaliação, nós sabemos muito sobre a mitologia grega, mas ainda pouco sobre as mitologias pretas.
— Quando propus apresentar uma história que faz parte da mitologia preta, e minha escola abraça isso ao ponto de ganhar como melhor escola, é porque cantou isto bem, dançou isso bem, evoluiu bem. E ganhar, junto disso, o melhor enredo, é porque isso foi contado de forma didática. É como se assinassem embaixo aquilo que pensei o pré-carnaval todo — alegra-se Leandro, que entende o Estandarte de Ouro como “uma esfera acima do 10” do júri oficial.
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Mas nada de fim de festa! Diogo Nogueira ainda subiu ao palco, para, com samba, convidar a todos para desfrutar do combo pé na areia, caipirinha, água de coco e cervejinha.
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