Grande Rio vence Carnaval do Rio com desfile contra intolerância religiosa

Integrantes da Grande Rio se apresentam durante a segunda noite dos desfiles de Carnaval do Rio, na Marquês de Sapucaí, em 24 de abril de 2022 – AFP

A escola de samba Grande Rio foi coroada campeã do Carnaval carioca nesta terça-feira (26) graças a seu desfile contra a intolerância religiosa, em uma edição que marcou a tão esperada volta ao Sambódromo após a pausa da pandemia.

A Grande Rio obteve o primeiro título de sua história ao desmistificar a divindade de origem africana Exu, figura que muitas vezes enfrenta o preconceito de grupos cristãos que a associam ao diabo.

Com imponentes carros alegóricos, coreografias e figurinos elaborados durante meses, a escola abordou as diferentes facetas de Exu, orixá dos cruzamentos e do movimento, responsável pela comunicação entre humanos e divindades em religiões como o candomblé e a umbanda.

“O desfile foi pensado para ser um grande despacho. Um choque elétrico contra todo esse horror que está aí no mundo e no nosso país. Em defesa daquilo que a gente acredita, contra o racismo religioso e o processo histórico que demonizou Exu, para cantar a vida”, explicou o carnavalesco da Grande Rio, Leonardo Bora, após a vitória.

Depois de ter seus desfiles suspensos em 2021 e adiados por dois meses este ano devido à pandemia, as doze principais escolas voltaram em todo o seu esplendor e agitaram o Sambódromo por duas noites no último fim de semana, diante de um público de 70 mil pessoas.

Ao contrário de escolas de samba tradicionais como Mangueira e Portela, fundadas na década de 1920, a Grande Rio surgiu em 1988 e nunca havia conquistado o primeiro lugar na competição.

Entre os seis melhores colocados deste ano, que se apresentarão novamente no próximo sábado no Desfile das Campeãs, quase todos se posicionaram contra o racismo e a intolerância religiosa.

A Beija-Flor conquistou o segundo lugar exaltando filósofos e pensadores negros com o samba-enredo “Empretecer o Pensamento”; a Vila Isabel, quarta, homenageou o sambista Martinho da Vila; a Portela, em quinto lugar, falou sobre a ancestralidade africana e sua influência na cultura brasileira; e o Salgueiro, em sexto, inspirou-se nos protestos antirracistas desencadeados pela morte do americano George Floyd e no movimento Black Lives Matter.

A Viradouro, em terceiro lugar, relembrou o carnaval de 1919, quando os cariocas saíram às ruas em massa para comemorar o fim da chamada gripe espanhola, traçando um paralelo com a atual pandemia de covid-19.

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